“Sétima”: relacionamentos e mudanças da vida

A “Sétima” do Muquifo traz hoje mais um curta metragem com roteiro e direção de Daniel Ribeiro: já comentamos sobre o roteirista e diretor brasileiro quando falamos sobre o lindo “Eu não quero voltar sozinho”. Hoje o curta que comentaremos é o “Café com leite”, que já ganhou diversos prêmios e participou de tantos outros festivais.

O filme nos conta a história de um casal que vê sua rotina passar por uma mudança brusca, e então é obrigado a se adaptar: Danilo está prestes a sair da casa dos pais para morar com seu namorado, Marcos, quando um acidente ocorre com os seus pais, e eles morrem. Tudo muda, então, já que Danilo passa a ser responsável por seu irmão caçula, Lucas. Os irmãos precisam se adaptar a esse novo contexto, ainda imersos na bolha de dor causada pela morte dos pais, e também Marcos é obrigado a adaptar-se.

O título “Café com leite” é muito interessante porque faz referências a diversas temáticas do filme: o fato de você poder ser “café com leite”, que pra quem não sabe (não teve infância), refere-se a ser inexperiente, em dados momentos da vida; e também a questão da mistura, da mescla de duas coisas diferentes que precisam encontrar um equilíbrio; nesse caso os dois irmãos que precisam de redescobrir e aprender a conviver um com o outro depois de tantas mudanças. Além dessa poesia toda do título e do filme em si, a história é muito bonita! A dor da perda é tratada de forma muito singela, focando naqueles momentos mais difíceis do cotidiano, aquela dor silenciosa que é muito mais verossímil do que tantas cenas caricatas (de uma forma negativa, e não genial, como alguns diretores conseguem trabalhar) que encontramos por aí. Quanto a questão da homossexualidade, o filme a trata de forma perfeita: o foco do curta é nos sentimentos de adaptação e como as relações são afetadas por isso, e é exatamente isso que ele mostra, sem ficar apontando dedos e impondo constantes; ele simplesmente quebra o tabu e trata o casal homossexual da forma mais natural possível.

O mais interessante é perceber as teias de relações que fazem parte da nossa vida e como elas são fluidas e estão sujeitas a todo tipo de metamorfose, ainda mais em momentos de dor e perda. Enfim, se eu precisasse escolher apenas algumas palavras para me referir a esse curta com certeza usaria “delicadeza” e “incrível”! Assistam!